Garimpo de ametista no norte da Bahia já atrai indianos, chineses, japoneses e até vereador em busca de fortuna
A descoberta de uma gigante jazida de Ametista no povoado de Quixaba,
em Sento Sé, na região norte da Bahia tem atraído milhares de pessoas
de todo, todos em busca de dinheiro, é claro! o bem mais precioso para muitos.
Ragesh é como ele se apresenta aos que operam para ele. Mas todos na
mina recém-descoberta em Sento Sé e nas ruas da cidade o conhecem pelo
apelido de “Indiano”. Nas primeiras semanas que se seguiram à descoberta
da jazida no povoado de Quixaba, o Indiano se deslocou para lá,
entrincheirou-se no quarto do Hotel da Geralda, na praça central do
município, e montou um escritório informal para negociar centenas de
quilos de ametista. Pessoas como Ragesh atuam no mercado clandestino de
pedras preciosas como contrabandista e se articulam em uma rede que
inclui ainda atravessadores e compradores.
Nos dias 17 e 18 de maio, quando O CORREIO visitou a “Serra Pelada da
Bahia”, era o Indiano quem concentrava as atenções dos vendedores de
pedras. Magro, estatura mediana e 40 anos aparentes, Ragesh é um sujeito
discreto. Fala muito pouco e quase nunca atende alguém em pessoa. Um
colaborador, de prenome Pedro, fluente em hindi, é quem serve de ponte
nas negociações. Raramente é visto fora do quarto do hotel e só come a
própria comida, trazida por ele na bagagem.
Quando sai do quarto, vai no máximo ao restaurante em frente, onde
pede sempre a mesma coisa: coca-cola e batata frita. Sua meta na cidade
não é fazer amigos nem ganhar a simpatia dos moradores de Sento Sé. No
tipo de negócio em que trabalha, popularidade e proximidade demais
trazem riscos altos. Até o nome – Ragesh – tem grande possibilidade de
não ser verdadeiro. Ele foi para lá apenas comprar pedras. Só as de
qualidade.
Para pequenos lotes, de até R$ 10 mil, o pagamento é feito em
dinheiro. Valores maiores são repassados por meio de transferência
eletrônica, direto para a conta. Característica dos indianos, a
habilidade para negociar de Ragesh é apontada pelos que comercializam
ametista para ele. Primeiro, oferece uma quantia. Nem um centavo a mais.
Caso não seja aceita, tudo bem. Caso o vendedor retorne depois,
disposto a aceitar a soma anterior, a oferta cai invariavelmente em
cerca de 20%.
Mercadores
Em geral, os atravessadores, também chamados de pedristas, são
ex-garimpeiros da região que subiram na cadeia. Negociam quantidades
menores e costumam adquirir lotes diretamente no garimpo para revender
aos compradores. Já estes são empresários ou autônomos com maior poder
financeiro, quase sempre vindos de estados ou cidades baianas com
tradição em pedras preciosas. Especialmente, diamantes, esmeraldas,
ametistas e rutilo.
Na parte mais baixa da cadeia, estão os garimpeiros. Cada quilo de
ametista bruta vendido por eles custam entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil. A
variação depende da qualidade da pedra. Leva-se em conta a intensidade
de cor, limpidez e formato da pedra. O chamado “pião”, cuja ponta forma
um hexagono perfeito, são as prediletas.
Nas mãos dos atravessadores, o quilo pode ser repassado de R$ 4 mil a
R$ 8 mil. Já os compradores revendem para contrabandistas
internacionais ou empresas legais no segmento de gemas por o dobro ou o
triplo do valor que pagaram. Aos “quijilas”, que classificam as pedras
no garimpo de acordo com a categoria, sobram os produtos de valor baixo,
destinados aos artesãos.
Há compradores e atravessadores que também abriram o próprio serviço
de extração no povoado de Quixaba. É o caso de Procópio da Silva Reis
Filho, vereador de Pindobaçu pelo PCdoB. Poroca, como é mais conhecido,
demarcou seu buraco no topo da mina e, junto com garimpeiros que
trabalhavam com ele nas jazidas de esmeralda da Serra das Carnaíbas,
começou a retirar lotes grandes de ametista.
“Achei um bom corte (veio, no jargão do garimpo), considerado
atualmente um dos mais produtivos e de boa qualidade daqui de Quixaba.
Um quilo vendido por mim para grandes compradores sai de R$ 8 mil a R$
10 mil”, afirma Poroca. Ao lado dele, está o buraco de Hélio da
Batateira, garimpeiro que já conseguiu lucrar cerca de R$ 500 mil com a
extração de ametistas.
Exterior
Na turma de grandes compradores que desembarcaram em Sento Sé,
facilmente reconhecidos pelas picapes luxuosas com tração 4×4, estão
Hugo e Gleidson. Ambos só aceitaram conversar com a reportagem após
negociar duas condições: nada de fotos ou de nomes completos.
O primeiro, natural de Campo Formoso, costuma vender diretamente para
estrangeiros. Também leva pedras para fora do Brasil. Sobretudo, para
Bangkok, na Tailândia, considerada a capital mundial das gemas lapidadas
que circulam no mercado clandestino. O segundo, um ex-lapidário de
Goiás, movimenta grandes lotes de pedras para negociantes de Minas
Gerais ou contrabandistas da Índia, China e Japão.
Tanto Minas quanto esses três países absorvem grande parte da
produção do Brasil. Em Sento Sé, além de indianos, já chegaram chineses e
japoneses, que preferem comprar no garimpo, guardam as pedras em
fazendas e andam sempre com seguranças. Basicamente, policiais da
região.
Cada contrabandista tem um mecanismo próprio de levar as pedras para o
exterior. Chineses e japoneses usam o artifício da carga embarcada, em
articulação com exportadores de frutas que trocaram seus países de
origem pelo Vale do São Francisco.
As pedras são armazenadas em caminhões de manga ou uva, sempre com
nota fiscal de valor baixo. Daí, a carga é embarcada nos navios dentro
de contêineres. Já os indianos são mais silenciosos. “Eles não dizem,
ninguém conhece quem são os caras que carregam as pedras para eles”, diz
Gleidson. Tudo ao arrepio da lei.
Jairo Costa Júnior* Correio24Horas
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