domingo, 8 de maio de 2016

Domingo, 08 de Maio de 2016 - 00:00

Mães Pela Diversidade pedem mais amor no mundo: ‘é disso que precisamos’

por Alexandre Galvão
Mães Pela Diversidade pedem mais amor no mundo: ‘é disso que precisamos’
Inês Silva | Foto: Genison Coutinho
A secretária executiva Inês Silva, de 47 anos, tinha uma família “comercial de margarina”. Um casamento duradouro, um casal de filhos estudiosos e com relacionamento estáveis. No entanto, em 2012, tudo mudou: a filha de Inês terminara a relação. Curiosa, Inês abriu o e-mail da filha e descobriu que a garota era lésbica. Quando viu ruir o seu “conto de fadas”, Inês tentou suicídio.  Um ano depois e um pouco mais recuperada do primeiro “baque”, Inês viu o relacionamento do seu filho também terminar. Logo em seguida, a notícia: ele, que sempre namorou meninas, é gay. Outra decepção e outra tentativa de suicídio. A tábua de salvação da secretária executiva foi o marido, que sempre pareceu homofóbico e bastante machista. Hoje, anos depois, Inês Silva é coordenadora na Bahia do grupo Mães pela Diversidade, um grupo de mulheres que tem como objetivo descontruir o preconceito em famílias que descobrem ter um membro LGBT. “O grupo abriu minha visão para enxergar além do meu mundo. Eu não via a vida dos meus filhos. O grupo serviu para me melhorar como pessoa”, afirma, em entrevista ao Bahia Notícias.

Kátia e os filhos | Foto: Arquivo pessoal
Katia Leoni, de 58 anos, passou por dilemas parecidos com o de Inês e também ingressou no Mães pela Diversidade. Assim como Inês, ela tem um casal de filhos homoafetivos. “Inicialmente, foi um susto. A nossa sociedade é muito preconceituosa, ela passa para a gente e a gente absorve isso sem se dar conta”, afirmou. A médica conta que a descoberta do filho foi mais dolorosa, pois, diferente da filha, ele sempre foi muito “over”, enquanto a menina sempre esteve introspectiva. “Quando era criança, ele gostava de usar as minhas roupas. Naquela época era engraçadinho, mas ele cresceu e o pré-conceito foi crescendo também”, conta. A família morava em uma cidade do interior e logo o menino ficou taxado como “o filho ‘viado’ da doutora”. “Isso começou a criar atritos entre eu e ele. Eu comecei a trabalhar o preconceito em mim. Como é que eu vou enfrentar isso tudo e vou me dizer mãe de uma criança que não corresponde a uma expectativa. Isso foi complicado. Eu procurei uma psicóloga, mas ela não resolveu nada. Pelo contrário”, relembra. Com o passar dos anos, o Kátia refletiu e concluiu que não deveria ser mais uma pessoa a maltratar o próprio filho. “Se o mundo já é tão cruel, preconceituoso, eu vou fazer a mesma coisa? Eu comecei a me colocar no lugar dele. Eu tive uma orientação sexual, se quisessem mudar isso, como eu me sentiria? Não ia dar certo. Eu não tinha direito de fazer isso com ele”, afirmou . Hoje, o garoto dá vida a uma drag queen, Kiki Soares, que, segundo Kátia, uniu a família. “Depois que Kiki apareceu, ela [a filha mais velha] também ficou mais tranquila e trouxe para a gente a sexualidade dela. Ela pode vivenciar a dela. A gente diz que Kiki foi um presente, que trouxe uma tranquilidade nesse sentido”, comemora. Hoje, a relação da mãe e do filho é saudável e permeada por amor.  Para as mães que estão na fase do descobrimento da sexualidade do filho, a médica Kátia Leoni tem um conselho. “Eu diria que ame, ame muito seus filhos. Abra o coração que faça esse processo de se colocar no lugar dele. Tudo tem que ser permeado com muito amor. Acho que é isso que a gente precisa, a sociedade precisa amar e respeitar”, sugere.


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