Em meio à crise, governo Temer aumenta investimento militar em 36%
Blindado Urutu, usado pelo Exército, que está em processo de substituição pelo modelo Guarani |
O governo Michel Temer (PMDB) retomou os investimentos militares, que
haviam sofrido um duro corte durante o último ano de Dilma Rousseff (PT)
no poder. Em 2016, foram pagos 36% a mais do que em 2015 no setor.
Sob intensa pressão institucional desde que assumiu o governo na esteira do processo de impeachment de Dilma, o peemedebista usou a tradicional arma do Orçamento para manter boas relações com os militares.
Dados de execução orçamentária do sistema Siga Brasil, do Senado,
mostram que em 2015 a tesoura do então ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, atingiu em cheio o investimento na área.
Dos R$ 11,9 bilhões previstos para serem gastos na área, R$ 6,73 bilhões
foram liberados, incluindo aí os chamados restos a pagar –valores
referentes a anos anteriores.
No fim de 2016, o valor subiu para R$ 9,15 bilhões –R$ 1,85 bilhão a
mais do que estava previsto no Orçamento. A previsão para 2017 é ainda
maior: R$ 9,7 bilhões, mas segundo o ministro Raul Jungmann (Defesa) esse número deverá sofrer algum corte.
Sua pasta é o segundo ministério em investimentos. A campeã,
Transportes, foi afetada em 2015, mas recompôs sua capacidade com R$
10,5 bilhões gastos em 2016.
Já a terceira colocada, a Educação, continua no nível do ano do corte, o
que reflete a revisão da política de expansão de gastos no setor sob
Dilma, alvo de críticas de gestão. A pasta só teve R$ 5,7 bilhões dos R$
13,8 bilhões previstos para 2015 pagos e assim permaneceu em 2016.
Apesar do surgimento de grupos que pregam intervenção militar como
solução para a crise política, a demanda não encontra nenhum eco nos
comandos.
Ainda assim, chamou atenção recente entrevista do comandante do
Exército, general Eduardo Villas Bôas, ao jornal "Valor Econômico", no
qual rechaçava a intervenção como antes, mas em que dizia que o "país
está à deriva".
INVESTIMENTOS
Com capacidades limitadas de defesa, cada Força faz suas apostas centrais.
A Marinha investe no programa de submarinos convencionais e nuclear. Em
2015, a rubrica de fabricação de quatro modelos diesel-elétricos recebeu
só R$ 35 milhões dos R$ 294 milhões planejados, sendo "salva" pelos
restos a pagar de outros anos.
Como agravante, a construção dos estaleiro e base em Itaguaí (RJ) pela Odebrecht é investigada na Lava Jato.
Na Força Aérea, os focos são os caças suecos Gripen e a fabricação do
cargueiro e avião-tanque KC-390, da Embraer. Este último só recebeu
pouco mais de 10% do previsto em 2015 e sofreu atrasos em seu
cronograma, mas em 2016 ficou com quase o dobro da verba inicial: R$ 816
milhões.
Já o Exército investe no programa de proteção de fronteiras e na troca da sua frota de blindados pelo modelo Guarani.
Os números, todos corrigidos pela inflação (IPCA), se referem apenas aos
programas das três Forças. O gasto total do Ministério da Defesa em
2016 foi de R$ 87,6 bilhões, equivalentes a 1,4% do PIB (Produto Interno
Bruto), número que vem se mantendo estável há duas décadas.
O grosso do dinheiro (73,7%) vai para pessoal. A segunda maior despesa é custeio, 13,6%, enquanto investimentos somam 10,4%.
O orçamento militar brasileiro, em termos nominais, é mais de 20 vezes
menor do que o maior do mundo, o americano. Não chega à metade só do
aumento prometido por Donald Trump para o setor nos Estados Unidos.
Lá, em 2015 cerca de 25% dos US$ 600 bilhões gastos foi para pessoal e
16%, para investimentos. As operações que mantêm o país como maior
potência bélica consomem mais de 40% das verbas.
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