Fome volta a assombrar famílias brasileiras
Três anos depois de o Brasil sair do mapa mundial da fome da ONU
— o que significa ter menos de 5% da população sem se alimentar o
suficiente —, o velho fantasma volta a assombrar famílias como a de
Maria de Fátima. O alerta, endossado por especialistas ouvidos pelo
GLOBO, é de relatório produzido por um grupo de mais de 40 entidades da
sociedade civil, que monitora o cumprimento de um plano de ação com
objetivos de desenvolvimento sustentável acordado entre os
Estados-membros da ONU, a chamada Agenda 2030. O documento será entregue
às Nações Unidas na semana que vem, durante a reunião do Conselho
Econômico e Social, em Nova York. Na casa de Maria de Fátima, a comida
se tornou escassa depois que ela foi demitida do emprego de cozinheira
na prefeitura de Belford Roxo, há oito meses. Os dois filhos mais velhos
vivem de bicos, cada vez mais raros. Os três integram a estatística
recorde de 14 milhões de desempregados, resultado da recessão iniciada
no fim de 2014. Pesam ainda a crise fiscal, que tem levado União,
estados e municípios a fazerem cortes em programas e políticas de
proteção social, e a turbulência política.
— Quando o país atingiu um índice de pleno emprego, na primeira
metade desta década, mesmo os que estavam em situação de pobreza
passaram a dispor de empregos formais ou informais, o que melhorou a
capacidade de acesso aos alimentos. A exclusão de famílias do Bolsa
Família, iniciada ano passado, e a redução do valor investido no
Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que
compra do pequeno agricultor e distribui a hospitais, escolas públicas e
presídios, são uma vergonha para um país que trilhava avanços que o
colocava como referência em todo o mundo — afirma Francisco Menezes,
coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(Ibase) e consultor da ActionAid, que participaram da elaboração do
relatório.(OGlobo)
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