Delação virou saída para reduzir pena, diz Jaques Wagner sobre Palocci
Por Folhapress | Fotos: Cynthia Vanzella/Brazil Forum/Divulgação
Dias
após Antonio Palocci decidir fazer uma delação premiada, o ex-ministro
petista Jaques Wagner disse em Oxford estar tranquilo quanto ao conteúdo
possivelmente revelado. Assim como devem estar tranquilos, ele afirmou à
reportagem, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff.
Wagner, ex-ministro do governo Dilma e ex-governador da Bahia,
participava do Brazil Forum, série de debates realizada neste fim de
semana em Londres e Oxford. "Eu não sei o que ele vai falar. Se alguém
pode estar tenso, é quem teve relacionamento com ele", disse. "É difícil
que o Lula tenha preocupação. O Lula e a Dilma."
"A coisa do Lula não é o patrimônio. É muito mais fazer política.
Inventaram um triplex, um sítio. Dizem que há milhões em uma conta no
exterior. Cadê a conta?".
Questionado sobre as razões que levaram Palocci -ex-ministro da Fazenda
e da Casa Civil- à delação, Wagner disse não existir surpresa. "No
sistema jurídico que vivemos, a delação virou a única saída para não
ficar preso por muito tempo."
Réu em dois processos em Curitiba, Palocci teme que suas penas possam
ultrapassar os 30 anos de prisão. A negociação do acordo será feita
pelos advogados Adriano Bretas e Tracy Reinaldet.
INTRIGA
Após falar com a reportagem, Wagner participou de uma mesa com o
ex-governador Ciro Gomes (PDT) e Timothy Power, diretor de estudos
brasileiros em Oxford.
O tema do debate era o futuro da política após o impeachment e a Lava
Jato. No sábado, o juiz Sergio Moro e o ex-ministro José Eduardo
Cardozo, do PT, haviam falado entre vaias e aplausos. "Querem
transformar a política em uma torcida organizada de futebol", disse
Wagner, criticando a crescente polarização brasileira.
Wagner criticou também a existência do cargo de vice-presidente, que
descreveu como "gasto de dinheiro" e "fórum de intriga". No caso do
afastamento de Dilma, ele disse que teria sido melhor haver eleições
antecipadas.
"Vice-presidente, vice-governador e vice-prefeito só servem para
tramar", disse. "Com a rapidez em que a gente chega de avião, não tem
sentido ter um vice."
Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência, disse ao público -como já
havia feito antes- que "o Brasil está sob um golpe de Estado",
criticando o afastamento da presidente Dilma Rousseff . "O Brasil é um
país autoritário. Nós não temos quase nenhuma tradição democrática."
Ele afirmou que o Brasil "está rachado entre diferenças de opinião e
moralismos de goela" e que "a única reforma que Michel Temer não vai
poder desfazer é a tomada de três pinos, mais nada."
ATRITOS
O debate entre Wagner e Gomes não teve grandes demonstrações políticas
da plateia, ao contrário do dia anterior, quando Moro e Cardozo causaram
comoção. Em outra mesa, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
Luís Roberto Barroso foi chamado de "golpista".
Já o ex-ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, foi chamado de "demagogo".
Ananias havia feito duras críticas às reformas implementadas pela
gestão do presidente Michel Temer. "Do que Karl Marx e Rosa Luxemburgo
não conseguiram me convencer, esse governo golpista conseguiu."
O Brazil Forum, voltado a estudantes brasileiros no Reino Unido, foi
organizado em parceria com a embaixada brasileira e firmas como Latam e
Uber, entre outras.
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