Melo delata que Wagner pediu a Odebrecht dinheiro para sua campanha e de Rui
Por Redação Bocão News | Fotos: Reprodução
A íntegra da delação de Claudio Melo, da Odebrecht, cujo Bocão News
teve acesso, tem um capítulo dedicado e detalhado sobre a relação do
funcionário da multinacional e o ex-governador e chefe do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner. De acordo com Melo,
que já possuía relação com JW, o petista o procurou em 2006 e 2010 para
pedir ajuda econômica da Odebrecht para a sua campanha ao governo da
Bahia e também em 2014 para a campanha de eleição do governador Rui
Costa (PT). Houve atuações também no Ministério da Defesa. O político
baiano, inclusive, chegou a receber relógios de presente nos valores de
US$ 20.000,00 e US$ 4.000,00.
CAMPANHA - O ex-ministro
chegou a pedir pessoalmente a Marcelo Odebrecht ajuda financeira para
2006, quando Wagner se elegeu pela primeira vez governador da Bahia e
também em 2010, nos mesmos moldes, durante a sua reeleição, sempre
condicionado a acordos de interesse da empresa.
“Durante almoço marcado por mim no
restaurante Convento localizado na Casa da Itália no eixinho sul, em
Brasília, Jacques Wagner solicitou apoio financeiro e Marcelo concordou,
embora tenha demonstrado incômodo por não acreditar no sucesso de sua
candidatura. Esta ajuda financeira foi direcionada por Marcelo Odebrecht
para o DS Bahia à época, Alexandre Barradas. Acredito que tenham
ocorrido pagamentos de até R$ 3.000.000,00 de forma oficial e via Caixa
2. O meu apoio interno foi essencial para que esse pagamento ocorresse”,
diz Melo na delação.
Wagner, segundo o texto, não gozava da
confiança da empresa em seu sucesso político e eleitoral. “A imagem de
Jacques Wagner, dentro da companhia, despertava inicialmente certa
desconfiança, pois a opinião sobre o êxito de sua carreira política não
era unânime, mas eu pessoalmente sempre acreditei, sendo isso
fundamental para que a companhia apoiasse a sua primeira candidatura”,
narra ao citar telefones e nomes de secretárias nas quais eles se
comunicavam quando JW fora governador e ministro.
Três termas nortearam as movimentações de
Wagner logo quando entrou no governo. “Eram eles: (i) créditos de ICMS
que estavam pendentes de devolução por parte do Estado desde o início da
construção do polo petroquímico de Camaçari; (ii) litígio judicial
envolvendo fornecimento de gás para o polo petroquímico e (iii)
pagamento das indenizações decorrentes da “cláusula quarta” de acordo
coletivo do polo petroquímico que estavam pendentes de 32 julgamento
definitivo por parte do STF”.
Na reeleição, em 2010, já com total
confiança da empresa, visto que demonstrou atenção em resolver as
questões apontadas pela multinacional, Wagner pediu reforço dos
repasses. O codinome utilizado era “Polo”. As planilhas do Drousys
indicam 10 (dez) pagamentos feitos em seu favor entre agosto/2010 e
março/2011 que somam um total de R$ 7.500.000,00.
CAMPANHA DE RUI COSTA – No trecho sobre 2014 e a eleição de Rui Costa (PT), o acordo firmado passava pela CERB e a Bahia Gás.
“Conversei com Marcelo Odebrecht, que me
disse que só iríamos fazer um pagamento mais elevado caso o assunto da
Bahia Gás fosse resolvido ou, então, se um tema denominado “Recebíveis
CERB” fosse encerrado, tema esse que era uma questão antiga que envolvia
disputa judicial da Odebrecht contra o Estado da Bahia. Além do
interesse empresarial, Marcelo Odebrecht não acreditava no sucesso da
candidatura de Rui Costa. Retornei a Jacques Wagner e tratei com ele dos
dois assuntos, cobrando uma saída para alguma das questões e
condicionando o pagamento diferenciado a título de pretensa doação de
campanha à solução de um dos assuntos. Ele pediu para que o responsável
pelo assunto “Recebíveis CERB”, que era André Vital, procurasse o
secretário da Casa Civil Rui Costa, pois ele iria solicitar que o
secretário conduzisse o assunto e buscasse uma solução. Em algumas
oportunidades cobrei a solução do governador. O assunto demorou muito,
mas foi resolvido por Rui Costa. Em função disso, fizemos contribuição
financeira diferenciada a Rui Costa”, informa o trecho.
O compromisso feito por André Vital seria de repasse no valor de R$ 10 milhões à campanha.
Assim como no primeiro ano de Wagner,
Odebrecht não acredita no êxito político de Rui nas urnas. “Fui a
Jacques Wagner transmitir esse posicionamento, dizendo a ele que Marcelo
Odebrecht não acreditava nas chances de Rui Costa se eleger na Bahia.
Eu também transmiti a ele que eu próprio não acreditava. Dessa forma,
fui orientado a apresentar estas bases acima mencionadas como a única
condição de apoio financeiro diferenciado que poderíamos vir a fazer.
Apesar da insatisfação demonstrada, o governador se empenhou em resolver
o assunto para que pudesse ter recursos para eleger o seu sucessor.
Atrelado ao tema da CERB, ficou vinculado o recebimento dos pleitos que
André Vital tinha contra o Estado, referentes à aceleração da obra da
Arena Fonte Nova para atender os prazos da FIFA”.
RELÓGIOS – Melo também cita relógios cedidos a Wagner como presentes de aniversário.
“Quando do aniversário de Jacques Wagner
em março de 2012, foi dado um relógio Hublot, modelo Oscar Niemeyer. Em
outro aniversário, que não me recordo o ano, também foi enviado relógio
da marca Corum, modelo Admirals Cup. Esses presentes foram entregues
junto com um cartão assinado por Marcelo Odebrecht, eu e André Vital.
Pelo que me lembro o custo desses relógios, por orientação de Marcelo
Odebrecht, foi rateado com o DS Bahia André Vital. O relógio foi
adquirido na loja Grifith, em São Paulo. Eu me lembro com detalhes do
relógio Hublot, porque esse relógio tem, em seu fundo, a imagem do
Congresso Nacional, um símbolo de Brasília. Segundo consta na internet, o
valor estimado desse relógio, hoje, é de aproximadamente US$ 20.000,00.
O segundo relógio, da marca Corum tem seu preço, estimado hoje, segundo
consta na internet, em US$ 4.000,00”.
DEFESA – Outro trecho do
texto diz respeito ao Programa de Desenvolvimento de Submarinos,
vinculado ao Ministério da Defesa. “Usando o prestígio que desenvolvi
junto a ele e fazendo valer todo o apoio que a empresa fez nas campanhas
de Governo dele, promovi uma reunião com André Amaro e Fabio Gandolfo,
onde eles falaram abertamente do projeto e seus problemas, especialmente
no tocante a fluxo de recursos”, disse.
“O projeto não sofreu qualquer
paralização na sua gestão, certamente pela forma com que ele sempre
manteve um fluxo mínimo de recursos, mesmo tendo deixado dividas com sua
saída. Enquanto Jacques Wagner era Ministro, mantivemos uma reunião
junto com Emílio Odebrecht para que Emílio reforçasse a ele a
importância de que existisse uma medida legislativa de urgência cuidando
da possibilidade de que empresas fizessem acordos de leniência. Marquei
essa reunião a pedido de Emílio Odebrecht. Depois disso, em algumas
outras oportunidades, reforcei o assunto com ele”
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