Moro diz que foto com Aécio foi 'infeliz', mas nega parcialidade
Por Folhapress | Fotos: Diego Padgurschi/Folhapress
Entre aplausos e vaias, o juiz federal
Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância,
afirmou em palestra em Heidelberg, na Alemanha, nesta sexta-feira (9),
que as investigações sobre desvios de recursos da Petrobras são
imparciais e não sofrem influência de interesses políticos.
Questionado pela DW Brasil sobre a
criticada foto em que aparece rindo ao lado do senador Aécio Neves
(PSDB-MG) durante a premiação "Brasileiros do Ano de 2016", da revista
"IstoÉ", Moro afirmou que o político não está sob sua jurisdição.
"Foi
um evento público, e o senador não está sob investigação da Justiça
Federal de Curitiba. Foi uma foto infeliz, mas não há nenhum caso
envolvendo ele", disse.
Aécio Neves, um dos políticos mais
citados nas recentes delações de executivos da Odebrecht e de
funcionários da Andrade Gutierrez, teria recebido propina de Furnas,
estatal do setor elétrico.
Moro destacou que as investigações estão
focadas na Petrobras e, por isso, é natural que políticos da oposição
não apareçam. "Se o crime é provado, haverá consequências. O PTB, o
Solidariedade, PP e PT aparecem nas investigações, então não posso ver
onde está a parcialidade na condução das investigações", disse.
Ele evitou comentar a notícia de que a
Odebrecht teria pago caixa 2 ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014. "Casos envolvendo
políticos são encaminhados ao Supremo", argumentou.
O juiz disse discordar "totalmente" das
críticas de que o processo legal não tem sido cumprido na Lava Jato. "A
operação não é uma bruxa caçadora", justificou ao dizer que não "joga
com a política". "Nenhuma prisão aconteceu com base em opiniões
políticas, mas em evidências de que crimes foram cometidos."
Para Moro, a Lava Jato dá ao Brasil a
oportunidade de superar a "prática vergonhosa" de pagamento de propinas.
"Há uma profunda erosão na confiança na democracia", afirmou. "A Lava
Jato revela que muito pode ser feito para combater a corrupção
sistêmica."
O juiz federal declarou que o Executivo e
Legislativo precisam implementar políticas para combater a corrupção.
Ao setor privado cabe implementar meios de controle interno para acabar
com a "regra do jogo" do setor público, guiada pelo pagamento de
propinas.
PROTESTOS — Um grupo de
cerca de 30 juristas e acadêmicos enviou uma carta à Universidade de
Heidelberg argumentando que Moro não tem credibilidade para discursar
sobre combate à corrupção no Brasil, por ser "parcial" em favor de
partidos como PSDB e PMDB.
"O juiz federal Sergio Moro incorreu em
posturas as quais foram determinantes para o clima político de derrubada
de um governo legítimo servindo, desta forma, aos piores interesses
antidemocráticos", diz o texto, em referência ao vazamento de uma escuta
telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, no período de crise pré-impeachment.
Na plateia, brasileiros levantaram
cartazes com dizeres "Moro na cadeia" e "parcialidade fere a
democracia". Outros gritavam "Moro, meu herói". Os grupos trocaram
insultos.
Perguntado por uma pessoa na plateia por
que divulgou os áudios de escutas telefônicas de Dilma, Moro afirmou que
as pessoas têm o direito de saber o que seus governantes fazem.
"É estranho que numa democracia as
pessoas reclamem de uma revelação como essa. Desde o início das
investigações decidimos que não iríamos esconder nenhuma informação do
público", declarou ao ressaltar que a atitude "não foi uma exceção à
regra".
Moro não quis comentar a crise entre o
Legislativo e o Supremo Tribunal Federal (STF) instalada nesta semana
após o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se negar a se
afastar do cargo depois de determinação do ministro Marco Aurélio Mello.
Nenhum comentário:
Postar um comentário