Comissão Pastoral da Terra defende Imperatriz Leopoldinense de críticas pela escolha do tema de desfile
Índios participam do desfile da Imperatriz Leopoldinense (Foto: Alexandre Durão/G1)

Os ruralistas estão se sentindo agredidos pela temática da
escola, sobretudo com a ala “os fazendeiros e seus agrotóxicos”.
Diversas entidades em que se organizam, desfecharam violentas críticas à
escola acusando-a de atacar os produtores rurais que se afirmam
responsáveis por expressiva porcentagem do PIB nacional.
Órgãos da grande imprensa, alinhados ao agronegócio, também
estamparam em seus meios sua indignação contra a escola e seu samba
enredo. O senador Ronaldo Caiado até chegou a sugerir uma sessão
temática no parlamento para discutir o assunto.
O carnavalesco Cahê Rodrigues, ao responder às críticas, diz que o
samba quer simplesmente defender o indígena, dar voz a ele, por isso
“tudo que agride a floresta, o meio ambiente e, diretamente o índio, nós
precisamos citar. Porque o enredo não é um conto de fadas. É uma
história real”.
Como se pode entender tamanha celeuma em torno a um tema de
escola de samba? O fenômeno encontra na história suas raízes mais
profundas. Desde a invasão portuguesa o território brasileiro tem sido
considerado propriedade exclusiva dos invasores.
Os povos indígenas e, posteriormente, os descendentes de escravos
libertos, os quilombolas, e outras comunidades de pobres no campo, que
ocupam parcelas do território nacional, têm sido até hoje
sistematicamente invisibilizados, como se não existissem. E no decorrer
da história foram arrancados de seus territórios por diversos mecanismos
de espoliação.
Os que tentam resistir são tratados como empecilhos ao
desenvolvimento e progresso de nosso país, sofrem perseguições e
violências e, muitas vezes, perdem a própria vida, como as 61 pessoas
que foram assassinadas devido aos conflitos no campo em 2016, segundo
dados parciais da CPT, o maior número de assassinatos desde o ano 2003.
Deste total, 12 são indígenas.
Somente com muita luta e determinação é que os indígenas e
quilombolas conseguiram introduzir na Constituição Federal de 1988
dispositivos que reconhecem sua existência e os direitos sobre seus
territórios, sua cultura e seus modos de viver.
As entidades que reagiram contra o enredo da escola de samba
defendem um agronegócio apresentado como pop pela grande mídia. Mas, um
pop que mata! Mata a terra e os demais seres que dela vivem. Inúmeras
situações no Brasil denunciam os impactos nocivos das atividades do
agronegócio sobre o meio ambiente, a saúde humana e a violação aos
direitos básicos das pessoas.
A escola de samba Imperatriz Leopoldinense já se pode considerar
vencedora do carnaval carioca de 2017, por estar resgatando da
invisibilidade histórica os povos indígenas do Brasil e denunciando as
agressões constantes que sofrem em seus territórios, em seus modos de
vida e cultura.
As pastorais do campo, que buscam através de suas ações valorizar
as comunidades com as quais trabalham, escutando suas histórias, seus
apelos, seus sonhos, querem parabenizar a Escola e o carnavalesco Cahê
Rodrigues por esta escolha histórica.
Goiânia, 22 de fevereiro de 2017.
Comissão Pastoral da Terra – CPT
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