Comissão Pastoral da Terra defende Imperatriz Leopoldinense de críticas pela escolha do tema de desfile
“A Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Pastoral dos
Pescadores (CPP) e o Serviço Pastoral do Migrante (SPM), vêm a público
manifestar seu apoio à Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, diante
da celeuma provocada pela reação de diversas entidades ligadas ao
agronegócio e empresas de comunicação a ele subservientes, ao tomarem
conhecimento da homenagem aos povos indígenas do Xingu, que foi tema da
escola de samba no carnaval carioca deste ano.
Os ruralistas estão se sentindo agredidos pela temática da
escola, sobretudo com a ala “os fazendeiros e seus agrotóxicos”.
Diversas entidades em que se organizam, desfecharam violentas críticas à
escola acusando-a de atacar os produtores rurais que se afirmam
responsáveis por expressiva porcentagem do PIB nacional.
Órgãos da grande imprensa, alinhados ao agronegócio, também
estamparam em seus meios sua indignação contra a escola e seu samba
enredo. O senador Ronaldo Caiado até chegou a sugerir uma sessão
temática no parlamento para discutir o assunto.
O carnavalesco Cahê Rodrigues, ao responder às críticas, diz que o
samba quer simplesmente defender o indígena, dar voz a ele, por isso
“tudo que agride a floresta, o meio ambiente e, diretamente o índio, nós
precisamos citar. Porque o enredo não é um conto de fadas. É uma
história real”.
Como se pode entender tamanha celeuma em torno a um tema de
escola de samba? O fenômeno encontra na história suas raízes mais
profundas. Desde a invasão portuguesa o território brasileiro tem sido
considerado propriedade exclusiva dos invasores.
Os povos indígenas e, posteriormente, os descendentes de escravos
libertos, os quilombolas, e outras comunidades de pobres no campo, que
ocupam parcelas do território nacional, têm sido até hoje
sistematicamente invisibilizados, como se não existissem. E no decorrer
da história foram arrancados de seus territórios por diversos mecanismos
de espoliação.
Os que tentam resistir são tratados como empecilhos ao
desenvolvimento e progresso de nosso país, sofrem perseguições e
violências e, muitas vezes, perdem a própria vida, como as 61 pessoas
que foram assassinadas devido aos conflitos no campo em 2016, segundo
dados parciais da CPT, o maior número de assassinatos desde o ano 2003.
Deste total, 12 são indígenas.
Somente com muita luta e determinação é que os indígenas e
quilombolas conseguiram introduzir na Constituição Federal de 1988
dispositivos que reconhecem sua existência e os direitos sobre seus
territórios, sua cultura e seus modos de viver.
As entidades que reagiram contra o enredo da escola de samba
defendem um agronegócio apresentado como pop pela grande mídia. Mas, um
pop que mata! Mata a terra e os demais seres que dela vivem. Inúmeras
situações no Brasil denunciam os impactos nocivos das atividades do
agronegócio sobre o meio ambiente, a saúde humana e a violação aos
direitos básicos das pessoas.
A escola de samba Imperatriz Leopoldinense já se pode considerar
vencedora do carnaval carioca de 2017, por estar resgatando da
invisibilidade histórica os povos indígenas do Brasil e denunciando as
agressões constantes que sofrem em seus territórios, em seus modos de
vida e cultura.
As pastorais do campo, que buscam através de suas ações valorizar
as comunidades com as quais trabalham, escutando suas histórias, seus
apelos, seus sonhos, querem parabenizar a Escola e o carnavalesco Cahê
Rodrigues por esta escolha histórica.
Goiânia, 22 de fevereiro de 2017.
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Nenhum comentário:
Postar um comentário